O tema de matar
O tema de matar é muito delicado e, para os
praticantes, temos um estrito requisito: praticantes não podem matar. Não importa
se a prática é da Escola Buda, da Escola Tao ou Qimen, sendo uma prática de
cultivo reta, ela considera este assunto de forma absoluta e proíbe matar; isso
com certeza. As consequências de tirar uma vida são muito sérias, por isso,
explicarei este tema de modo detalhado. Nos ensinamentos originais de
Sakyamuni, matar referia-se principalmente a tirar a vida humana, pois é o mais
grave. Depois, matar animais grandes, animais domésticos e outras vidas grandes
também foi considerado algo muito grave. Por que na comunidade de cultivadores
o tema de matar é considerado tão seriamente? No Budismo, antigamente eles
diziam que as pessoas assassinadas que ainda não deveriam morrer se tornavam
almas solitárias ou fantasmas desamparados. Antigamente, eles realizavam
rituais para livrar essas almas dessa situação. Sem assistência, essas vidas
não teriam o que comer e beber; a situação delas seria de grande sofrimento. É o que no passado se
dizia no Budismo.
Dizemos que, quando alguém faz mal a uma
pessoa, ele tem que dar virtude a ela como forma de compensação. Quando falamos
de fazer maldades, usualmente nos referimos a fazer coisas como se apossar de
coisas que pertencem a outras pessoas. No entanto, quando inesperadamente se dá
fim a uma vida, seja a de um animal ou de outro ser, isso gera muito mais
carma. Antigamente, matar se referia principalmente a tirar a vida de um ser
humano, porque isso gera muito mais carma. Porém, o carma gerado quando se mata
outros seres também não é pequeno; gera diretamente bastante carma. Durante o
cultivo, são estabelecidas tribulações em diferentes níveis que são específicas
para cada praticante, pois decorrem de seu próprio carma. São suas próprias
tribulações colocadas em diferentes níveis para que você possa se elevar. Desde
que você eleve seu xinxing, você será capaz de superá-las. Mas, se uma grande
quantidade de carma fosse adicionada de uma só vez a você, como você
conseguiria superar isso? Com seu nível de xinxing, você não seria capaz de
superar isso, o que certamente o impediria de cultivar.
Vimos que quando uma pessoa nasce,
simultaneamente, nascem muitas ‘ela’ dentro de certa extensão deste espaço
cósmico; todas têm a mesma aparência, o mesmo nome e fazem coisas parecidas
durante a vida. Por isso, pode-se dizer que são partes de uma mesma entidade.
Isso envolve um problema: se uma delas (isso também vale para grandes animais)
morrer inesperadamente, as outras ‘ela’, em cada uma das outras dimensões,
ainda terão que completar o curso originalmente planejado para suas vidas;
terão muitos anos ainda por viver. Sendo assim, a que morreu ficará em uma
situação de desamparo, vagando no espaço cósmico. No passado, dizia-se que as
almas solitárias e os fantasmas vagantes padecem de fome e sede, que sofrem
muito; pode ser assim. Porém, sem dúvida, vemos que ela fica em uma situação
lastimável enquanto, em terrível situação, espera que todas as outras ‘ela’ nas
outras dimensões terminem de viver suas vidas para, juntas, finalmente poderem
ir para seus destinos. E quanto mais tempo isso dura, mais ela sofre, e quanto
mais ela sofre, mais esse sofrimento gera carma, o qual é continuamente
adicionado ao corpo de quem a matou. Pense: você não acumularia um enorme
carma? Isso é o que vemos por meio de capacidades sobrenaturais.
Também podemos ver a seguinte situação:
quando uma pessoa nasce, o perfil de toda a sua vida já existe em uma certa
dimensão, ou seja, o ponto em que ela está de sua vida e o que ela deverá fazer
estão lá. Quem arranjou a vida inteira dela? Obviamente, isso é feito por vidas
de níveis mais altos. Por exemplo, na nossa sociedade de pessoas comuns, depois
de nascer, a pessoa fará parte de uma determinada família, de uma determinada
escola, e, quando adulta, de um determinado local de trabalho. Por meio do trabalho,
ela estabelecerá diversos contatos sociais. Em outras palavras, tudo na
sociedade humana foi planejado dessa forma. Mas, se uma vida morrer
inesperadamente, isso interferirá nos arranjos feitos por essas vidas de níveis
mais altos e, consequentemente, elas não perdoarão quem interferiu nisso.
Pensem todos: como cultivadores, queremos cultivar para níveis altos, mas se
essas vidas de níveis mais altos não perdoarem quem matou, você acha que ele
poderá cultivar depois disso? Os níveis de alguns mestres são inferiores ao
dessas vidas de níveis mais altos que planejam essas coisas, sendo assim, o
mestre de quem matou também será punido e mandado para um nível mais baixo.
Pensem: é um problema comum? Portanto, para quem matou, torna-se muito difícil
cultivar.
Entre os cultivadores do Falun Dafa há
alguns que possivelmente combateram em tempos de guerra. Essas guerras
resultaram de grandes mudanças cósmicas e você foi apenas um elemento dentro
dessa conjuntura. Se sob o efeito dessas mudanças cósmicas ninguém atuasse,
essas guerras não poderiam ocorrer na sociedade das pessoas comuns e
tampouco poderíamos chamar esses eventos de mudança cósmica. Esses eventos
ocorrem de acordo com essas grandes mudanças, por isso, o que aconteceu não
pode ser totalmente culpa sua. Estamos falando de um carma que resulta da
insistência em se fazer coisas más para obter ganhos pessoais, satisfazer
interesses pessoais ou quando somos afetados de alguma forma. Quando envolve
uma grande mudança geral, que resulta em grandes mudanças na sociedade, não é
de sua responsabilidade.
Matar gera um carma enorme. Talvez alguém
esteja pensando: “Não podemos matar vidas, mas sou eu que cozinho em casa. O
que minha família comerá se eu não puder matar?”. Não falo de questões
particulares, porque estou ensinando o Fa para praticantes. Não estou falando
fortuitamente a pessoas comuns como elas devem viver suas vidas. Ao lidar com
questões específicas, você deve avaliá-las de acordo com o Dafa e fazer o que
você julgar ser o correto. Pessoas comuns fazem o que elas querem e esse é um
assunto delas; não é possível que todos cultivem genuinamente. Porém, como
praticante, você deve exigir de si altos padrões; os requisitos que exponho
aqui são para praticantes.
Não são somente os seres humanos e os
animais que têm vida, as plantas também têm. Qualquer matéria manifesta vida em
outras dimensões. Quando o tianmu de uma pessoa se abre ao nível da visão-Fa,
ela descobre que as pedras, as paredes, que todas as coisas falam com ela e a
cumprimentam. Possivelmente alguém esteja pensando: “O que devemos fazer, já
que os cereais e as verduras que comemos têm vida? Além disso, o que fazer com
as moscas e os mosquitos em casa? Incomoda muito as picadas dos mosquitos no
verão; teremos que ficar olhando eles nos picarem sem fazer nada? E quanto às
moscas que pousam sobre a comida e a sujam, teremos que ficar vendo isso sem
poder matá-las?”. Digo a vocês que não podemos tirar vidas arbitrariamente e
sem nenhuma razão. No entanto, não devemos nos tornar cautelosos demais, sempre
focados em coisas triviais e até mesmo andando aos pulos com medo de pisar em
formigas. Digo que viver assim faria de sua vida um fardo. Não é também um apego?
Mesmo que você caminhe aos pulos para não pisar em formigas, muitos microrganismos
morrem quando você pisa. Existem muitas vidas pequenas no nível microscópico,
como os germes e as bactérias. Provavelmente você pisou e matou muitas delas.
Nós teríamos que parar de viver para não fazer isso. Não queremos nos tornar
esse tipo de pessoa, porque não é possível cultivar assim. Devemos ver as
coisas de uma perspectiva mais ampla e cultivar de modo digno e reto.
Como humanos, temos o direito de manter o
modo de vida humano, por isso, o ambiente em que vivemos deve atender às
necessidades da vida humana. Não podemos prejudicar vidas intencionalmente,
porém, também não podemos ficar presos a coisas triviais. Por exemplo, os
vegetais e cereais têm vida; entretanto, não podemos deixar de comer nem de
beber só porque eles têm vida, de outro modo, como poderíamos praticar? Devemos
ter uma mente ampla. Por exemplo, quando você está andando, as formigas e os
insetos que vão para debaixo de seus pés morrem pisados e, possivelmente, é
porque eles deveriam morrer, pois você não os matou intencionalmente. No campo
da biologia ou da microbiologia há a questão do equilíbrio ecológico; uma
quantidade excessiva de vidas se torna uma infestação ou praga; por isso, nós
falamos sobre cultivar de modo digno e reto. Quando há moscas ou mosquitos em
nossas casas, podemos afugentá-los e instalar telas para impedi-los de entrar.
Nem sempre conseguimos afugentá-los e se eles morrerem enquanto tentamos
enxotá-los, que seja assim. Se eles picam ou prejudicam as pessoas no espaço
onde os seres humanos vivem, você certamente deve expulsá-los e, se não puder,
você não pode ficar olhando eles picarem as pessoas. Por ser um praticante,
você não os teme e é imune a eles, mas seus familiares não são praticantes e
são pessoas comuns que se preocupam com as doenças contagiosas. Não podemos
ficar olhando sem fazer nada, enquanto um inseto pica o rosto de uma criança.
Vou lhes dar um exemplo: há uma história
sobre Sakyamuni em seus primeiros anos. Foi num dia em que Sakyamuni quis tomar
banho num bosque. Ele pediu a um de seus discípulos que limpasse a banheira. O
discípulo foi até a banheira e encontrou-a cheia de vermes se arrastando por
todos os lados. Se ele limpasse a banheira, mataria os vermes. Ele voltou e
disse a Sakyamuni: “A banheira está cheia de vermes se arrastando por todos os
lados”. Sem olhar para o discípulo, Sakyamuni disse: “Vá e limpe a banheira”.
Ele foi novamente até a banheira, mas não sabia como limpá-la sem matar os
vermes. Ele voltou e disse a Sakyamuni: “Venerável Mestre, a banheira está
cheia de vermes, se eu limpá-la, eles morrerão”. Sakyamuni olhou para o
discípulo e disse: “O que eu pedi a você foi para limpar a banheira”. O
discípulo entendeu no mesmo instante e, em seguida, foi e limpou a banheira.
Esta história esclarece um princípio: não podemos deixar de tomar banho porque
há vermes nem devemos procurar outro lugar para viver só porque há mosquitos;
tampouco devemos fechar a garganta e parar de comer cereais e verduras porque
eles têm vida. Não pode ser assim. Devemos encontrar um equilíbrio ao lidar com
essas coisas e cultivar de modo digno e reto. Se não prejudicarmos nenhuma vida
intencionalmente, já está bom. Os seres humanos também precisam de um ambiente
com condições de vida adequada, as quais devem ser mantidas. Os humanos
precisam manter suas vidas e levar uma vida normal.
No passado, alguns falsos mestres de qigong
disseram: “É permitido matar no primeiro e no décimo quinto dia do mês”. Alguns
também disseram: “É permitido matar animais de duas patas”, como se animais de
duas patas não fossem vidas. Se matar no primeiro ou no décimo quinto dia não é
matar, então é o que? Não é igualmente matar? Alguns falsos mestres de qigong
podem ser descobertos por suas palavras e ações; pelo que dizem e buscam. Os
mestres de qigong que falam essas coisas quase sempre têm futi. Basta olhar o
modo como um mestre de qigong com futi de raposa come uma galinha: ele a devora
e nem sequer quer deixar os ossos.
Matar vidas produz enorme carma e envolve
também a questão de ter compaixão. Cultivadores não
devem ter compaixão? Quando a compaixão emerge, podemos sentir que todas as
vidas estão sofrendo, que todos estão sofrendo. Isto acontece.
O tema de comer
carne
O tema de comer carne é também muito
delicado, mas comer carne não é matar. Embora vocês estudem o Fa já há bastante
tempo, não requeremos que vocês parem de comer carne. Muitos mestres de qigong,
assim que você entra na aula deles, dizem: “A partir de agora, você não poderá
mais comer carne”. Talvez você pense: “Eu não estou mentalmente preparado para
deixar de comer carne tão de repente”. Talvez a comida a ser servida em sua
casa hoje seja um apetitoso frango assado ou um peixe frito, no entanto, você
não poderia comê-la. Também é assim no cultivo nas religiões, eles obrigam a
pessoa a não comer carne. As práticas convencionais da Escola Buda e algumas da
Escola Tao também dizem isso, também proíbem comer carne. Aqui não lhe pedimos
isso, contudo, também falamos desse assunto. O que temos a dizer? Em nossa
prática, o Fa refina o praticante e isso significa que alguns estados se
manifestam a partir do gong e do Fa. Durante a prática, surgem diferentes
estados nos diferentes níveis. Um dia ou depois desta minha aula de hoje,
possivelmente alguns de vocês entrarão num estado em que não conseguirão comer
carne, pois sentirão aversão a seu cheiro. Se comerem, vomitarão. Você não é
forçado a fazer isso ou tem que se controlar para não comer carne, em vez
disso, isso vem do fundo do coração. Alcançado esse nível, como efeito de seu
gong, surge esse estado em que você não consegue comer carne; se você a comer,
seguramente vomitará.
Os nossos estudantes veteranos sabem que
esse estado surge no cultivo do Falun Dafa e que diferentes estados surgem nos
diferentes níveis. O desejo ou apego de comer carne de alguns estudantes é
relativamente mais forte; eles habitualmente comem muita carne. Enquanto os
outros sentem aversão ao cheiro de carne, eles não sentem e ainda podem
comê-la. O que fazer para que abandonem esse apego? Se eles comerem carne,
sentirão dor de estômago, caso contrário, não. Quando esse estado surge,
significa que você não deve comer carne. Quer dizer então que em nosso caminho
a questão se resume a não comer carne? Não é assim. Como lidamos com a questão?
Esse “não comer carne” vem do fundo do coração. Com que propósito? Tanto a
abstinência à carne imposta no cultivo nos templos como esse estado de não
poder comer carne que surge em nossa prática têm o propósito de eliminar o
desejo e apego à carne.
Se não há carne em seus pratos, alguns
simplesmente se negam a comer. Esse é um desejo de pessoa comum. Certa manhã,
quando eu estava passando pelo portão dos fundos do Parque do Triunfo de
Changchun, três pessoas estavam saindo por lá e falando bem alto, e uma delas
disse: “Que tipo de prática de qigong é essa que proíbe comer carne? Prefiro
dar dez anos da minha vida a deixar de comer carne!”. Que desejo forte! Pensem
todos: esse desejo não deve ser removido? Definitivamente! O processo de
cultivo é justamente para eliminar todo tipo de desejo e apego. Para ser claro,
se o desejo de comer carne não foi eliminado, isso não significa que o apego
também não foi eliminado? Assim, é possível completar o cultivo? Se há um
apego, ele tem que ser removido. Mas isso não quer dizer que você nunca mais
poderá comer carne; deixar de comer carne não é o real propósito. O propósito é
fazer você eliminar esse apego. Depois que o apego for eliminado no período em
que você não conseguir comer carne, você poderá comê-la novamente, quando então
seu cheiro já não provocará náuseas nem ela terá um sabor ruim. Nessa altura,
comê-la não será um problema.
Quando puder comê-la novamente, você não
terá o apego e o seu desejo de comer carne já terá desaparecido. Mas ocorre uma
grande mudança: ao comê-la de novo, não será apetitosa para você. Se ela for
servida em sua casa, você a comerá, caso contrário, não lhe fará falta, pois
para você a carne não será apetitosa; ocorre essa situação. No entanto,
cultivar entre as pessoas comuns é bastante complicado. Se em sua casa há
sempre carne nas refeições, então, com o tempo, o apetite pela carne poderá
voltar. Poderão haver recaídas e se repetirem várias vezes durante o cultivo.
De repente, novamente, você não poderá comê-la. Não a coma quando não puder,
pois você realmente não poderá comê-la; se comê-la, você vomitará. Quando puder
comê-la, siga o curso natural. Comer ou não comer carne não é em si mesmo o
propósito; o ponto-chave está em remover esse apego.
O caminho do nosso Falun Dafa possibilita
avançar rapidamente; você atravessará rapidamente cada nível se você elevar o
seu xinxing. Há pessoas que nunca tiveram apego à carne e pouco lhes importa se
há ou não carne na mesa; para elas, leva de uma a duas semanas para remover
esse apego. Para outras, é necessário um, dois ou três meses, talvez meio ano.
Exceto para casos muito especiais, não leva mais do que um ano para que elas
possam comer carne novamente. É porque a carne se tornou importante na
alimentação humana. Entretanto, aqueles que cultivam nos templos, sob os
regulamentos dos templos, não podem comer carne.
Vamos falar um pouco do entendimento do
Budismo sobre comer carne. No início do Budismo, não era proibido comer carne.
Em sua época, Sakyamuni levava seus discípulos para cultivarem na floresta; era
penoso e não havia nenhum preceito proibindo comer carne. Por que não? Quando
Sakyamuni transmitiu seu Fa há mais de dois mil e quinhentos anos, o mundo
ainda era pouco desenvolvido: não era em todas as regiões que havia a
agricultura e as terras cultivadas eram muito poucas, havia florestas por todos
os lados. O suprimento de grãos era muito limitado e escasso. Recém-saídos de
uma sociedade primitiva, os seres humanos viviam principalmente da caça, por
isso, o principal alimento em muitas regiões era a carne. Para que seus
discípulos pudessem abandonar seus apegos o máximo possível, Sakyamuni não
permitia que eles tivessem acesso a qualquer tipo de riqueza e bens materiais.
Ele levava seus discípulos para mendigar comida. Eles comiam todo tipo de
comida, porque, como cultivadores, eles não podiam escolher a comida dada a
eles e nela havia carne.
No Budismo original, havia a proibição hun.
A proibição hun vem do Budismo original. Atualmente, comer carne também é
considerado hun. No entanto, naquela época, a proibição hun não incluía a
carne, mas coisas como cebolinha, gengibre e alho. Por que essas coisas eram
hun? Hoje em dia, muitos monges não sabem explicar isso. Eles não entendem
muitas coisas, porque não cultivam realmente. Sakyamuni ensinou: preceitos,
samadhi e sabedoria. Preceitos significa abster-se de todos os desejos de
pessoa comum; samadhi implica cultivar durante a meditação, quando a pessoa
está em transe total. Qualquer coisa que afetasse o transe, que interferisse no
cultivo, era vista como uma grave interferência. Quem come cebolinha, gengibre
ou alho exala um forte odor. Naquela época, os monges geralmente meditavam em bosques
nas florestas e também em cavernas. Eles meditavam formando vários círculos de
sete ou oito pessoas. Quem comia essas coisas produzia um incomodante e forte
odor que atrapalhava os que estavam sentados em transe; isso perturbava
seriamente a prática dos outros. Foi por isso que esse preceito foi colocado e
essas comidas foram consideradas como hun. Os odores fortes incomodam os muitos
seres que se manifestam no corpo humano durante o cultivo. Além disso, a cebolinha,
o gengibre e o alho podem estimular desejos e comê-los pode ser um hábito
vicioso. Por isso, foram considerados hun.
No passado, muitos monges, depois que
alcançaram níveis muito altos no cultivo e entraram em estado de gong aberto ou
semiaberto, também entenderam que essas regras não são importantes durante o
cultivo. Quando o apego é abandonado, o que é material, por si só, deixa de ter
efeito. O que realmente interfere é o apego. Ao longo da história, vários
monges de níveis altos também entenderam que comer ou não comer carne não é o
ponto-chave, que o ponto-chave está em poder eliminar esse apego. Quando uma
pessoa não tem esse apego, ela pode comer qualquer coisa para encher seu
estômago. No entanto, como os monges dos templos não comem carne, as pessoas já
se acostumaram a essa ideia; além disso, deixou de ser apenas um preceito e
passou a ser um regulamento nos templos. Como os monges não comem carne, as
pessoas adquiriram a noção de que o cultivo tem que ser dessa forma. Vamos
falar sobre o monge Jigong, que ficou famoso nas obras literárias. Os monges
não podem comer carne, mas ele comeu e por isso se tornou muito conhecido. De
fato, quando ele foi expulso do Templo Lingyin, obter alimentos tornou-se
naturalmente um grande problema para ele, pois sua sobrevivência estava em
jogo. Para encher o estômago, ele comia qualquer tipo de alimento. Era só para
encher o estômago, ele não tinha apego a nenhum alimento em particular; para
ele era indiferente. Por ter cultivado até esse ponto, ele entendeu esse
princípio. Na realidade, Jigong comeu carne só uma ou duas vezes, no entanto,
ouvir que um monge comeu carne desperta o interesse dos escritores, pois quanto
mais impactante é um assunto, mais as pessoas querem ler sobre isso. As obras
literárias se baseiam na vida e vão além da vida. Os escritores tornaram Jigong
muito conhecido. Na realidade, se uma pessoa realmente eliminou o apego, o que
ela come para encher o estômago não importa.
No sudeste da Ásia e no sul da China,
especialmente nas províncias de Guangdong e Guangxi, alguns budistas leigos não
chamam a si mesmos de cultivadores do Budismo, é como se isso fosse antiquado.
Eles dizem que comem comida budista ou que são vegetarianos; eles acham que por
serem vegetarianos, são seguidores do Budismo. Eles tomam o cultivo do estado-buda como algo simples assim. Ser vegetariano capacita para cultivar o
estado-buda? Todos sabem que comer carne é um apego e desejo humano, mas é
apenas um dos apegos humanos. Tornar-se um vegetariano elimina apenas um apego.
É preciso também eliminar a inveja, a competitividade, a exultação, a
ostentação e todos os outros apegos. São muitos os apegos humanos. Somente
eliminando todos os apegos e desejos é que se pode alcançar a perfeição no
cultivo. Como alguém poderia cultivar o estado-buda apenas eliminando o apego
de comer carne? Essa ideia não é correta.
O tema de comer não envolve só a carne,
porque não se deve ter apego a nenhum tipo de alimento. Isso se aplica também a
outras coisas. Algumas pessoas dizem que gostam de comer uma comida em
especial; isso também é um desejo. Depois que alcançam um determinado nível, os
cultivadores não têm esse apego. Claro, o Fa que ensino é de nível altíssimo e
incorpora coisas de diferentes níveis em seus ensinamentos. Não é possível
chegar a isso de imediato. Você diz que gosta de comer uma comida em especial,
mas quando o seu cultivo realmente alcançar o ponto em que você terá de
eliminar esse apego, você simplesmente não conseguirá comê-la. Se você a comer,
ela não terá um sabor bom para você ou talvez você não sinta nenhum sabor. A
cantina da empresa onde trabalhei sempre dava prejuízo; em pouco tempo, teve
que ser fechada. Depois que foi fechada, todos passaram a levar o próprio
almoço. Preparar a comida cedinho de manhã, antes de ir para o trabalho, era
inconveniente. Frequentemente, eu comprava e levava dois pães cozidos no vapor
e um pedaço de tofu com molho de soja. Em princípio, algo simples e leve assim
deveria ser adequado, mas comer sempre isso ainda não estava bom; era um apego
que tinha de ser removido. Assim que via o tofu, eu sentia acidez e não podia
comê-lo; foi para que eu não desenvolvesse esse apego. Claro, isso só ocorre
depois que o cultivo alcança certo nível; não ocorre no início.
A Escola Buda não permite beber álcool.
Você já viu um Buda andando por aí com uma jarra de vinho? Nunca. Eu disse que
a pessoa poderá voltar a comer carne depois que eliminar esse apego no cultivo
entre as pessoas comuns e que não há nenhum problema em voltar a comê-la.
Entretanto, depois que a pessoa deixa de beber álcool, ela não pode mais
bebê-lo. Não há gong no corpo dos praticantes? Diferentes formas de gong e
capacidades sobrenaturais se manifestam na superfície do corpo e são puras.
Quando você bebe álcool, todas se afastam imediatamente do seu corpo. Num
instante, não fica nenhuma, porque elas têm aversão a esse odor. Adquirir o
hábito de beber álcool é abominável, pois interfere em seu comportamento. Por
que as práticas de cultivo de alguns grandes taoístas requerem beber álcool?
Porque nessas práticas quem cultiva não é o espírito-original-principal, por
isso, a pessoa bebe álcool para que seu espírito-original-principal perca a
consciência.
Algumas pessoas amam o álcool tanto quanto
as suas próprias vidas. Algumas anseiam beber álcool; outras estão tão
intoxicadas pelo álcool que elas sequer conseguem levantar suas tigelas de
arroz sem antes beberem alguns goles de álcool. Nós, praticantes, não devemos
ser assim. Beber álcool é certamente viciante; é um desejo que estimula nervos
que viciam; quanto mais uma pessoa bebe, mais ela fica dependente do álcool.
Pensem sobre isto: por ser um praticante, você não deve eliminar esse apego?
Esse apego também tem que ser removido. Possivelmente alguém está pensando:
“Não posso, porque meu trabalho é receber e entreter clientes” ou “Eu sou o
responsável pelos contatos de negócio no exterior e é difícil falar de negócios
sem beber álcool”. Digo que não precisa ser assim. Geralmente, quando se faz
negócios, especialmente quando você fala de negócios com estrangeiros, você
pode pedir um refresco, ele uma água mineral e o outro uma cerveja. Ninguém o
força a pedir bebida alcoólica. Você pode pedir o que quiser e beber o quanto
quiser. Especialmente entre pessoas bem-educadas, ninguém o obrigará ou
constrangirá a beber álcool. Geralmente é assim.
Fumar também é um apego. Algumas pessoas
dizem que fumar as revigora; digo que isso é enganar a si mesmas e os outros.
Algumas pessoas, quando se sentem cansadas de fazer um trabalho ou de escrever
algo, gostam de fazer uma pausa para fumar um cigarro; elas se sentem
revigoradas depois disso. Na realidade, não é porque fumaram que elas se sentem
assim, é porque fizeram uma pausa para poder relaxar. Essa falsa impressão pode
iludir a mente humana e gerar uma noção equivocada que faz realmente a pessoa
acreditar e sentir que fumar restaura seu ânimo. Fumar não pode fazer isso, não
tem esse efeito. Fumar não traz nenhum benefício ao corpo humano. Quando um
médico faz uma autópsia em alguém que fumou durante muitos anos, ele vê que a
traqueia e os pulmões estão totalmente escuros.
Nós, praticantes, não queremos purificar os
nossos corpos? Temos que purificar continuamente os nossos corpos e progredir continuamente
para níveis altos. Mas, se você ainda coloca isso no seu corpo, você não está
indo em direção contrária à nossa? Além disso, é também um forte desejo.
Algumas pessoas, mesmo sabendo que fumar não é bom, não conseguem deixar de
fumar. De fato, digo que elas não têm pensamentos retos que as guiem e não é fácil
deixar de fumar dessa forma. Como cultivador, considere isso como um apego a
ser descartado e você verá se consegue ou não. Eu aconselho a todos que querem
realmente cultivar, que deixem de fumar a partir de agora. Eu garanto que vocês
podem fazer isso. Ninguém, no campo desta aula, pensa em fumar. Se você quer
deixar de fumar, garanto que você conseguirá. Se você fumar um cigarro
novamente, ele não terá sabor. Ler esta aula do livro também produz esse
efeito. Claro, se você não quer cultivar, nós não cuidaremos disso. Penso que
você, por ser um cultivador, deve parar de fumar. Certa vez, dei o seguinte
exemplo: “Você já viu um Buda ou um Tao sentado por aí com um cigarro na
boca?”. Como isso seria possível? Como cultivador, qual é a sua meta? Você não
deve parar de fumar? Por isso, digo que se você quer cultivar, então, você deve
parar de fumar. Fumar prejudica seu corpo e é também um desejo. Fumar é
totalmente contrário aos requisitos que nossos cultivadores devem seguir.
O coração de
inveja
Quando ensino o Fa, frequentemente falo da
inveja. Por quê? Porque a inveja se manifesta de forma muito forte na China. É
tão forte que se tornou natural, as pessoas nem mesmo percebem isso. Por que os
chineses são tão invejosos? Isso tem suas raízes. No passado, os chineses foram
muito influenciados pelo Confucionismo e, por isso, eles se tornaram
introvertidos. Quando estão irritados, os chineses não expressam isso; quando
estão felizes, não expressam isso. Os chineses falam de autodomínio e
tolerância. Educado desse modo, nosso povo se tornou muito introvertido.
Certamente, isso tem suas vantagens, tal como não exibir qualidades internas;
porém, tem suas desvantagens, que podem levar a estados negativos.
Particularmente agora no período final do Fa, esse lado negativo se tornou mais
evidente e aprofundou mais ainda a inveja. As pessoas ficam com inveja quando
ficam sabendo sobre algo de bom que aconteceu à outra pessoa. Algumas pessoas
evitam até falar de prêmios e outras coisas ganhas no trabalho ou fora dele,
porque os outros poderão ficar emocionalmente desequilibrados se souberem. Os
ocidentais chamam isso de inveja oriental ou inveja asiática. Muito influenciada
pelo Confucionismo vindo da China, toda a Ásia é assim em maior ou menor grau.
Especialmente na China, a inveja se manifesta de forma muito intensa.
De certo modo, essa inveja está relacionada
ao igualitarismo absoluto praticado no passado: “Se o Céu desabar, todos devem
morrer”; “Se há algo a ser distribuído, então deve ser dividido igualmente
entre todos”, “Se há um aumento salarial, deve ser o mesmo para todos”. Essa
mentalidade parece ser justa, com todos sendo tratados igualmente. Mas, na
realidade, como pode ser igual para todos? Os trabalhos das pessoas são
diferentes e suas responsabilidades também. Em nosso universo há um princípio:
“Sem perda não há ganho; para ganhar é preciso perder.” As pessoas comuns
dizem: “Quem não trabalha não ganha”, “Trabalhe mais para ganhar mais”,
“Trabalho menor, ganho menor”. Quem dá mais de si, deve ganhar mais. O
igualitarismo absoluto do passado sustentava que todos os seres humanos são
iguais ao nascer e que é a vida pós-natal que muda isso. Eu digo que essa
afirmação se tornou absoluta e tudo o que é tornado absoluto se torna errado.
Por que algumas pessoas nascem homem e outras nascem mulher? Por que têm aparências
diferentes? Algumas nascem com doenças ou deformadas; não são iguais. De níveis
altos, podemos ver que a vida inteira de uma pessoa está lá em outra dimensão.
Como podem ser iguais? Todos desejam a igualdade, porém, se algo não faz parte
da vida da pessoa, como a igualdade é possível? As pessoas não são iguais.
Os ocidentais são relativamente
extrovertidos. Podemos perceber quando estão felizes ou irritados. Isso tem
vantagens, mas tem também desvantagens, uma das quais é a falta de controle
sobre si. O modo de ser dos ocidentais e dos orientais baseia-se em duas
mentalidades diferentes e isso faz com que reajam de modo diferente diante das
situações. Se um chinês é elogiado pelo chefe ou premiado pela empresa, os
outros se desequilibram emocionalmente. Quando um trabalhador chinês recebe um
prêmio em dinheiro, ele o esconde discretamente no bolso para que os outros não
saibam. Hoje em dia, é difícil até ser um bom trabalhador: “Você é o
trabalhador modelo, um modelo de bom trabalho, então, você deve ser sempre o
primeiro a chegar e o último a sair”; “Já que você trabalha melhor, faça todo o
trabalho sozinho”. Há todo tipo de comentário sarcástico ou cínico; não é fácil
nem mesmo ser uma boa pessoa.
Se isso acontecer em outros países, será
totalmente diferente. Em outros países, quando um chefe premia com dinheiro um empregado
que teve um excelente desempenho no trabalho, este pode expressar sua alegria e
contar o dinheiro na frente de todos: “Uau, hoje o chefe me deu um prêmio em
dinheiro!”. Ele pode alegremente falar isso a todos e sem que isso crie
problemas para ele. Na China, quando um empregado ganha um prêmio em dinheiro,
até o chefe pede a ele que esconda o dinheiro para que os outros não saibam. Em
países ocidentais, quando um menino tira nota dez na escola, ele volta para
casa correndo alegremente e falando bem alto ao longo do caminho: “Hoje eu
tirei nota dez! Tirei dez na prova!”. Um vizinho abre a porta e diz: “Oi
Toninho, muito bem! Bom garoto!”. Outro abre a janela e diz: “Oi Pedrinho, que
bom! Parabéns!”. Se isso acontecer na China, será um desastre. “Tirei nota dez!
Tirei dez na prova!”. O vizinho, ao ouvir o menino falar isso, começará a
resmungar antes mesmo de abrir a porta de sua casa. Ele dirá: “O que há de
especial em tirar nota dez? Por que fazer alarde por causa disso?! Quem nunca
tirou nota dez?”. Duas mentalidades gerando resultados diferentes. Quando algo
de bom acontece a alguém, os outros não só não compartilham essa alegria como
se desequilibram emocionalmente. Pode levar a esse problema.
O igualitarismo absoluto de alguns anos atrás
distorceu a mentalidade e os valores das pessoas. Dou um exemplo específico. No
trabalho, uma pessoa sente que os outros não são tão competentes quanto ela e
que ela faz um excelente trabalho. Ela percebe que é realmente extraordinária.
Em seu íntimo, ela pensa: “Estou qualificado para ser o gerente ou o diretor da
empresa; posso ter um cargo maior ainda. Posso ser um primeiro-ministro”.
Talvez o chefe já tenha dito que ela é muito competente, que é capaz de fazer
bem qualquer coisa. Quem sabe, todos os colegas de trabalho dela também digam
que ela é muito competente. Porém, na equipe ou no departamento dela, há alguém
incompetente, incapaz de assumir responsabilidades. Um dia, ele, que é
incompetente, é promovido para um alto cargo ao invés dela que é competente, e
até se torna chefe dela. Ela acha injusto e vai falar com todos para tentar
reverter isso: indignada, ela se queixa a todos à sua volta; fica com uma
tremenda inveja.
Estou falando a vocês de um princípio que
as pessoas comuns não são capazes de perceber. Você diz que é competente, mas é
algo que não está na sua vida; a outra pessoa é incompetente, porém, é algo que
já estava predestinado para a vida dela e, por isso, foi ele e não você que foi
promovida para um cargo importante. O que uma pessoa comum pensa não importa,
pois é apenas o ponto de vista de uma pessoa comum. Da perspectiva das vidas de
níveis mais altos, a sociedade humana deve avançar precisamente de acordo com a
ordem e as leis que determinam o desenvolvimento, por isso, o que você fará em
sua vida humana não foi planejado com base em sua competência. No Budismo, eles
falam do princípio da retribuição do carma. Sua vida é planejada de acordo com
o seu carma. Não importa o quão competente você é, se você não tem virtude,
possivelmente não terá nada nesta vida. Você sabe que ele é incompetente,
porém, é ele que tem muita virtude e, por isso, ele ocupa um alto cargo ou é
muito rico. Uma pessoa comum não pode perceber esse ponto e sempre acha que
deve fazer o que está à altura daquilo que ela é capaz de fazer. Por isso, ela
compete e briga durante toda a sua vida, e o seu coração sofre muito. Ela vive
amargurada e esgotada, e sempre achando que a vida é injusta. Ela não come nem
dorme bem, vive frustrada e deprimida. Quando a velhice chegar, isso terá
acabado com a saúde dela e ela terá todo tipo de doença.
Nossos cultivadores, com mais razão ainda,
não devem ser assim. Um cultivador deve seguir o curso natural. Se algo é seu,
você não o perderá; se algo não é seu, você não o terá por mais que lute por
isso. Claro, também não é absoluto, pois se fosse absoluto assim, não haveria a
questão de cometer maldades. Em outras palavras, existem alguns fatores
instáveis. Claro, sendo um praticante, em princípio, você está sob os cuidados
dos Fashens do Mestre e, por mais que os outros queiram pegar algo seu, eles
não conseguirão. É por isso que falamos de seguir o curso natural. Às vezes,
você pensa que algo é seu e inclusive os outros dizem que é seu, mas, na
realidade, não é. Você acredita que é seu, mas no final das contas não é. Nesse
caso, você está sendo testado para ver se pode ou não abrir mão disso. Se não
puder, é um apego. Esse método é usado para remover seu apego a interesses
pessoais; essa é a questão. Como as pessoas comuns não podem se iluminar a esse
princípio, elas competem e brigam por interesses pessoais.
Entre as pessoas comuns, a inveja se
manifesta de maneira muito má. Ela também se manifesta de modo marcante na
comunidade de cultivadores. Não há respeito entre as práticas de qigong: “A sua
prática é boa” ou “A prática dele é boa”; há elogios e críticas. A meu ver,
todas são do nível de curar e fortalecer o corpo. Essas práticas que competem
entre si são quase todas caóticas e foram trazidas por futis; elas não falam de
xinxing. Uma pessoa pode ter praticado qigong por mais de vinte anos sem
manifestar capacidades sobrenaturais, enquanto outra as manifestou assim que
começou a praticar. A pessoa que não as manifestou achará que é injusto:
“Pratico qigong há mais de vinte anos e não tenho nenhuma capacidade
sobrenatural, no entanto, ela já tem. Que capacidades sobrenaturais são essas?!
Enfurecida, ela diz: “Ele tem futi! É insanidade de cultivo!”. Enquanto um
mestre de qigong está dando uma aula, uma pessoa sentada lá diz com desdém:
“Ih! Que tipo de mestre de qigong é esse? Não estou nem um pouco interessado no
que ele diz”. Talvez esse mestre de qigong não saiba se expressar tão bem
quanto essa pessoa, no entanto, ele ensina só aquilo que é do seu caminho de
cultivo. Essa pessoa aprendeu de tudo, tem uma pilha de certificados de cursos,
vai a cursos de qualquer mestre de qigong. Sem dúvida, ela sabe mais coisas que
esse mestre de qigong, mas para que lhe servem essas coisas? São coisas só para
eliminar doenças e fortalecer o corpo. Quanto mais a pessoa se enche dessas
coisas, mais desordenadas e complicadas as mensagens se tornam, e mais difícil
se torna cultivar; fica uma grande bagunça. Na genuína prática de cultivo
fala-se de dedicação a um único caminho para não se desviar. O desrespeito
mútuo também existe entre genuínos cultivadores. Enquanto o apego de competir
não for eliminado, ele poderá facilmente levar à inveja.
Vou lhes falar sobre um romance. No livro
Investidura dos Deuses, Shen Gongbao considera Jiang Ziya alguém velho e
incompetente; no entanto, a Venerável Divindade da Origem escolhe Jiang Ziya
para conceder títulos aos Deuses. Shen Gongbao acha que isso é injusto: “Por
que pediram a ele para conceder títulos aos Deuses? Veja como eu, Shen Gongbao,
sou formidável. Se cortarem a minha cabeça, eu posso colocá-la de volta no
lugar. Por que então não pediram a mim para conceder títulos aos Deuses?”. Ele
era muito invejoso, por isso, sempre causava problemas a Jiang Ziya.
No Budismo original da época de Sakyamuni,
falava-se sobre capacidades sobrenaturais. Atualmente, ninguém mais ousa falar
disso no Budismo; se você falar, dirão que você tem insanidade de cultivo.
“Capacidades sobrenaturais?!”. Eles não aceitam isso. Por quê? Atualmente, até
os monges não sabem nada sobre isso. Sakyamuni teve dez discípulos principais
e, entre eles, Mujianlian foi o primeiro em poderes divinos. Sakyamuni teve
discípulas e, entre elas, Lianhuase foi a primeira em poderes divinos. Também foi
assim quando o Budismo foi introduzido na China. Ao longo da história,
existiram vários monges consumados, como Bodhidarma, que quando chegou à China,
cruzou um rio flutuando sobre um talo de junco. Entretanto, no decorrer da
história, as capacidades sobrenaturais foram cada vez mais rejeitadas. A
principal razão para isso é que os monges superiores, os monges dirigentes e os
abades dos templos não são necessariamente pessoas de grande qualidade-inata e,
ainda que sejam abades ou monges superiores, são meramente cargos entre as
pessoas comuns. Eles também são cultivadores, mas também exercem esses cargos
nos templos. Você cultiva em meio à sociedade, sem ter esses cargos. Ter êxito
ou não ter êxito no cultivo depende inteiramente de cultivar o coração e isso
vale para todos; a pessoa não terá êxito se fizer menos do que é preciso.
Porém, o monge júnior, que cuida da lareira e da cozinha, não tem
necessariamente uma qualidade-inata pequena. Quanto mais dificuldades ele
suporta, mais fácil é para ele conseguir abrir o gong e, quanto mais
comodamente vive o monge superior, mais difícil é para ele abrir o gong, porque
isso envolve a questão da transformação do carma. O monge júnior sempre
trabalha árdua e exaustivamente e assim paga mais rapidamente seu carma. Então,
um dia, o gong do monge júnior se abre subitamente. Com a abertura do gong e a
iluminação ou semi-iluminação, todas as suas capacidades sobrenaturais emergem.
Todos os monges do templo vão consultá-lo e muitos vão para admirá-lo. O monge
dirigente não pode suportar isso: “Como ainda poderei ser o monge dirigente
depois disso?”. Ele diz: “Isso não é iluminação! É insanidade de cultivo.
Expulsem-no do templo!”. E, assim, o monge júnior é expulso do templo. Com o
tempo, no Budismo chinês, ninguém mais ousou falar de capacidades
sobrenaturais. Vejam como Jigong tinha grandes capacidades sobrenaturais: ele
podia trazer troncos da Montanha Emei e lançar toras de madeira para fora de
uma cisterna, uma após a outra, mas no final, foi expulso do Templo Lingyin.
O coração de inveja é muito sério porque
envolve diretamente a questão de poder ou não completar o cultivo. Se sua
inveja não for eliminada, tudo o que você cultivou será frágil. Há uma regra:
quem não eliminar o apego à inveja durante o cultivo não poderá obter a
Fruição-reta – absolutamente não. Possivelmente todos já ouviram que Buda
Amitabha falou sobre poder ir com carma para o paraíso, no entanto, isso não é
possível sem eliminar a inveja. É possível ir para o Paraíso com pequenas
deficiências e um pouco de carma, e depois cultivar para eliminá-lo. No
entanto, sem remover a inveja, isso não é possível. Hoje digo a todos os
praticantes que não se iludam: despertem e iluminem-se para este problema. Se
sua meta é cultivar para níveis altos, então elimine o apego à inveja. É por isso
que dei especial atenção a este tema.
O tema de curar
doenças
Eu não ensino a curar doenças. Nenhum
genuíno discípulo do Falun Dafa deve curar doenças dos outros. Se você fizer
isso, os meus Fashens pegarão de volta todas as coisas do Falun Dafa que foram
colocadas em seu corpo. Por que nós tratamos este tema tão seriamente? Porque
prejudica o Dafa, sem falar do quanto estraga o seu corpo. Há pessoas que,
depois de curarem alguém, ficam ansiosas para fazerem isso de novo. Elas pegam
o primeiro que veem pela frente para curá-lo e fazem isso para se exibir. Isso
não é um apego? É algo que afeta seriamente o cultivo das pessoas.
Muitos falsos mestres de qigong,
aproveitando-se de pessoas comuns que têm a mentalidade de querer curar doenças
depois de terem aprendido qigong, ensinam essas coisas. Eles ensinam isso para
você. Eles dizem que emitir qi pode curar doenças. Não é uma brincadeira? Você
tem qi e a outra pessoa também tem qi. Você acha que seu qi pode curar outra
pessoa? E se o qi dela for mais poderoso que o seu? Na realidade, qi não pode
restringir qi. No cultivo de alto nível, a pessoa desenvolve gong. Ela emite
matéria de alta energia, que certamente pode tratar, controlar e restringir a
doença, mas não pode remover a sua causa. Para verdadeiramente curar uma
doença, ou seja, remover também o que causa a doença, é preciso ter capacidades
sobrenaturais. Existe uma capacidade sobrenatural específica para curar cada
tipo de doença; digo que há mais de mil, que há tantas quanto forem os tipos de
doença. Sem ter essas capacidades sobrenaturais, mesmo que saiam flores de suas
mãos, não é possível curar.
Nos últimos anos, algumas pessoas fizeram
da comunidade de cultivadores um caos. Daqueles verdadeiros mestres de qigong
que vieram a público para ajudar as pessoas a se curarem de suas próprias doenças
e obterem saúde – que vieram no início para preparar o caminho –, algum deles
ensinou às pessoas a curar doenças dos outros? Eles curavam suas doenças ou
mostravam a você como praticar para fortalecer o seu corpo, ou seja, eles lhe
ensinavam uma série de exercícios para que você mesmo, praticando-os, pudesse
se curar de doenças. Depois, vieram esses falsos mestres de qigong que
confundiram tudo. Quem quiser usar o qigong para curar doenças atrairá futi –
definitivamente é assim. Sob as circunstâncias bem especiais daquele período,
alguns mestres de qigong curaram pessoas doentes, mas o fizeram em conformidade
com a conjuntura cósmica daquele período. No entanto, qigong não é uma técnica
de pessoa comum e aquilo não podia durar para sempre, pois resultou de mudanças
na conjuntura cósmica daquele período; foi por causa disso. Porém, depois,
alguns se especializaram em ensinar como curar as doenças dos outros e, dessa
maneira, virou um caos. Uma pessoa comum pode se tornar capaz de curar doenças
em três ou cinco dias? Alguns afirmam: “Posso curar esta ou aquela doença”. Eu
digo que todos os que fazem isso têm futi. Sabe o que eles têm nas costas?
Futi, mas eles não sentem nem sabem disso, inclusive, se sentem bem e muito
capazes.
Os genuínos mestres de qigong tiveram que
cultivar arduamente durante anos e anos para serem capazes de fazer isso.
Quando você trata uma pessoa, você já pensou se você tem realmente capacidades
sobrenaturais com o poder de eliminar o carma dos outros? Você recebeu
ensinamentos genuínos? Como você se tornou capaz de curar doenças depois de
aprender qigong durante apenas dois ou três dias? Como você consegue curar
doenças com suas mãos de pessoa comum? Esses falsos mestres de qigong se
aproveitam de suas fraquezas e de seus apegos humanos. Você não quer curar
doenças? Pois bem, eles organizam cursos de cura e ensinam métodos de cura para
você, tais como: agulhas de qi, irradiação de luz, descarga de qi, compensação
de qi, digitopressão e o tal ‘método de agarrar’. Há uma variedade de métodos,
mas o objetivo sempre é o mesmo: tomar o seu dinheiro.
Vamos falar agora sobre o método de
agarrar. Por que as pessoas adoecem? Vemos a seguinte situação: a causa
fundamental de as pessoas adoecerem e de todos os seus infortúnios é o carma, o
campo cármico de matéria preta. É algo negativo e mau. Esses seres maus também
são negativos e são todos escuros. Eles vão para o corpo porque é um ambiente
que lhes é propício. Essa é a causa fundamental de as pessoas adoecerem e é a
principal fonte das doenças. Claro, há outras duas causas: uma é um ser
microscópico de alta densidade formado de um aglomerado de carma; a outra é
algo acumulado pelos antepassados e que vem através de um tubo, mas é algo
raramente visto.
Falemos de doenças comuns. No lugar do
corpo humano onde há um tumor, uma inflamação, uma hiperosteogenia ou coisa do
tipo, lá, numa outra dimensão, reside um ser. Esse ser vive numa dimensão muito
profunda. Um mestre comum de qigong ou alguém com capacidades sobrenaturais
comuns não pode ver isso; ele só vê que nesse lugar do corpo há qi preto e,
onde há qi preto, pode existir uma doença: é correto dizer isso. No entanto, o
qi preto não é a causa fundamental da doença e sim um desses seres que existe
em uma dimensão mais profunda; é ele que gera esse campo. Alguns ensinam a
tirar o qi preto do corpo. Vá em frente, tire-o! Logo em seguida, ele será
gerado novamente. Alguns desses seres são muito poderosos e podem recuperar o
qi assim que este é expulso. Tratamentos comuns simplesmente não funcionam.
Quem tem capacidades sobrenaturais pode ver
que no lugar do corpo onde há qi preto, há o que chamamos de qi patogênico. Um
médico da medicina tradicional chinesa dirá que os canais de energia estão
obstruídos nesse lugar impedindo que o qi e o sangue fluam. Um médico da
medicina ocidental dirá que nesse lugar há uma ulceração, ou um tumor, ou uma
hiperosteogenia, ou uma inflamação ou algo do tipo. É como se manifesta nesta
dimensão. Depois que aquele ser for retirado, você descobrirá que não há nada
de errado com seu corpo nesta dimensão. Não importa se era uma protrusão do
disco vertebral ou uma hiperosteogenia, depois que aquela coisa for removida e
o campo se dispersar, você descobrirá que o paciente foi instantaneamente
curado. Se você tirar outra radiografia, verá que a protrusão desapareceu. A
causa fundamental da doença era precisamente aquele ser gerando esse efeito.
Alguns dizem que se você aprender o método
de agarrar num curso de três ou cinco dias, você poderá curar doenças. Mostre-me como você faz isso! O ser humano é o mais débil, enquanto aquele ser é
realmente feroz. Ele pode controlar o seu cérebro e manipular você à vontade;
pode matá-lo facilmente. E você diz que pode agarrá-lo! Como? Com suas mãos de
pessoa comum, você não pode nem mesmo tocar nele. Seus movimentos para tentar
agarrá-lo aqui e ali serão ignorados e, atrás de suas costas, ele rirá de você
e de seus gestos ridículos e sem alvo. Se você realmente conseguir tocar nele,
lesionará instantaneamente sua mão; será uma lesão de fato! No passado, tratei
de pessoas cujas mãos pareciam normais: os exames médicos não mostraram nada de
anormal no corpo ou nas mãos delas, no entanto, elas simplesmente não podiam
levantar a mão, que ficava pendurada assim. Estive com pessoas assim: o corpo delas
de outra dimensão estava lesionado, era realmente paralisia. Se aquele corpo
for ferido, você não terá uma paralisia nesse local? Alguns me perguntam:
“Mestre, eu ainda posso praticar? É que eu fui esterilizado” ou “Removeram uma
parte do meu corpo”. Digo que isso não é um problema, porque a cirurgia não
pode afetar aquele seu corpo de outra dimensão e, na prática, é ele que realiza
a função. É como eu disse, se você tentar agarrar aquele ser e não tocar nele,
ele o ignorará, porém, se você a tocar, provavelmente lesionará sua mão.
Para apoiar um evento de grande abrangência
sobre o qigong, levei alguns de meus discípulos para participarem da Exposição
Oriental de Saúde em Pequim. Participamos de duas Exposições e em ambas a nossa
prática foi o destaque. Na primeira, nosso Falun Dafa foi honrado com o título
de Escola Estrela do Qigong; na segunda, as pessoas que foram visitar nosso
estande eram tantas que não sabíamos o que fazer. Nos outros estandes não havia
muita gente, enquanto o nosso estava cheio de gente. Havia três filas: a primeira
era de pessoas que haviam se inscrito para o tratamento da manhã, a segunda era
de pessoas que aguardavam para se inscreverem para o tratamento da tarde e a
terceira era de pessoas que aguardavam o meu autógrafo. Por que fizemos isso se
não tratamos doenças? Foi para apoiar o qigong em um evento de escala nacional,
ou seja, para contribuir com essa causa. Foi por essa razão que participamos.
Reparti meu gong entre os discípulos que
levei comigo, dei uma porção para cada um. Cada porção era um aglomerado de energia
composto por centenas de capacidades sobrenaturais. Selei as mãos deles, mesmo
assim, as mãos de alguns foram mordidas a ponto de formarem bolhas e sangrarem,
e isso ocorreu várias vezes. Esses seres são ferozes. Com suas mãos de pessoa
comum, você ousaria tocar nele? Além disso, você precisa ter certa capacidade
sobrenatural para conseguir pegá-lo, pois, em outra dimensão, ele saberá o que
você quer fazer assim que você pensar nisso e, quando você for agarrá-lo, ele
já terá fugido e, assim que o paciente sair pela porta, ele voltará para o
corpo do paciente e a doença ressurgirá. Para pegá-lo, é preciso ter essa
capacidade sobrenatural, com a qual, ao estender a mão, ‘paf ’, você o detém
lá. Uma vez detido lá, é preciso ter outra capacidade sobrenatural mais
poderosa ainda, que no passado era chamada de ‘grande método para capturar a
alma’. Essa capacidade tem o poder de arrancar o espírito-original e, assim,
imobilizar instantaneamente. Ela é usada com essa finalidade e nós a focamos em
agarrar tal ser. Todos sabem que embora o Rei Macaco fosse muito grande, o
Tatagata usou a tigela em sua mão para tornar o Rei Macaco muito pequeno a
ponto de poder cobri-lo com ela. Essa capacidade pode fazer isso. Não importa o
tamanho do ser, ele pode ser agarrado com a mão porque se torna muito pequeno.
Além disso, para arrancar tal ser, não é
permitido introduzir a mão no corpo do paciente, pois perturbaria a mente das
pessoas comuns que vissem isso. Não é permitido fazer isso na sociedade humana
e, ainda que possível, não deve ser feito desse modo. A mão que é introduzida é
a sua mão de outra dimensão. Suponhamos que alguém tenha uma doença no coração.
Enquanto a mão carnal está se movendo em direção ao coração para agarrar aquele
ser, sua mão de outra dimensão penetra o corpo e, num instante, agarra tal ser
e o traz para fora do corpo e, junto com a sua mão carnal, o prende. Ele é
feroz e fica se movendo e tentando perfurar a mão; às vezes, ele morde e berra.
Ainda que pareça pequeno quando preso em sua mão, se você o soltar, ele se
tornará muito grande. Não é algo que qualquer um possa fazer. Sem essas
capacidades sobrenaturais, você não poderá tocá-lo; não é simples como as
pessoas imaginam.
Claro, é possível que esse tipo de
tratamento pelo qigong seja permitido no futuro, pois sempre existiu no
passado. Porém há uma condição: a pessoa deve ser um cultivador. Durante o
cultivo, uma pessoa, movida por compaixão, poderá fazer isso para algumas
poucas pessoas boas e isso é permitido porque ela não é capaz de eliminar
completamente o carma das pessoas, porque não tem suficiente poderosa virtude
para tanto. Embora a doença tenha desaparecido, a pessoa ainda terá a
tribulação. Um mestre comum de qigong é uma pessoa que não obteve o Tao no
cultivo; ele só é capaz de adiar a doença ou talvez de transformá-la. Ele pode
transformá-la em outra tribulação, no entanto, possivelmente ele mesmo não sabe
desse processo de adiamento, porque, se na prática dele quem cultiva é a
consciência-assistente, então, é a consciência-assistente que faz isso. Algumas
pessoas de certas práticas de qigong são muito famosas. Muitos renomados
mestres de qigong não têm gong, porque o gong se desenvolveu no corpo do
espírito-original-assistente deles. Algumas pessoas têm permissão para fazer
essas coisas durante o cultivo, porque elas permanecerão nesse nível. Elas
praticarão por décadas, mas sem nunca ir além desse nível. Elas poderão tratar
pessoas durante a vida toda. Isso é permitido, porque elas permanecerão nesse
nível. Os discípulos do Falun Dafa não podem curar pessoas. Você pode ler este
livro para uma pessoa doente. Se ela aceitar, isso poderá curá-la, porém o
resultado varia de acordo com a quantidade de carma de cada pessoa.
A cura nos
hospitais e a cura pelo qigong
Vamos falar agora da relação entre a cura
em hospitais e a cura pelo qigong. Alguns médicos da medicina ocidental não
reconhecem o qigong, pode-se dizer que a maioria. O argumento deles é: “Se o
qigong pode curar doenças, por que vocês do qigong não nos substituem nos
hospitais? Se é assim, vocês deveriam nos substituir!”; “Se com o qigong vocês
podem curar só com um toque de mão, sem precisar de injeções, remédios,
internações, não será ótimo se vocês nos substituírem nos hospitais?”. Esse
argumento não é nem razoável nem racional. Há pessoas que não entendem o que é
o qigong. De fato, a cura pelo qigong não se assemelha em nada aos tratamentos
convencionais das pessoas comuns; não é uma técnica de pessoa comum, é
sobrenatural. Como permitir que algo sobrenatural interfira em grande escala na
sociedade humana comum? Um Buda é muito poderoso: com um único movimento de
mão, ele pode acabar com todas as doenças da humanidade. Por que ele não faz
isso? E há incontáveis Budas. Por que nenhum deles manifesta sua misericórdia
curando você? É porque nascimento, envelhecimento, doença e morte são condições
da sociedade humana comum. Todas as tribulações têm relações cármicas e
resultam do ciclo de retribuição do carma. Se você tem uma dívida, você terá
que pagá-la.
Se você curar uma pessoa doente, isso
equivalerá a violar o princípio de que a pessoa tem que pagar pelas coisas
erradas que ela fez. Daria certo se fizéssemos isso? Um cultivador, movido pela
compaixão, tem permissão para curar enquanto não tiver poder suficiente para
eliminar totalmente o problema. Isso é permitido porque sua compaixão emergiu.
No entanto, quando se tem de fato o poder para resolver esse tipo de problema,
não é permitido fazer isso em grande escala, pois perturbaria seriamente o
estado da sociedade humana comum. Não é permitido. Substituir os hospitais das
pessoas comuns pela cura pelo qigong não daria certo, porque o qigong é um Fa
sobrenatural.
Se na China fossem abertos hospitais de
qigong – supondo que fosse permitido – e todos os grandes mestres de qigong
viessem para curar doenças nesses hospitais, o que você acha que aconteceria?
Isso não é permitido, pois todos salvaguardam o estado da sociedade humana
comum. Se fossem abertos hospitais de qigong, clínicas de qigong, centros de saúde
de qigong, complexos hospitalares de qigong, a eficácia dos tratamentos desses
mestres decairia drasticamente, eles deixariam imediatamente de dar os
resultados esperados. Por quê? Porque eles estariam fazendo coisas de pessoas
comuns e isso se ajustaria ao Fa do nível das pessoas comuns para assim manter
o estado normal da sociedade humana comum. A eficácia de cura seria igual à dos
hospitais. Sendo assim, os tratamentos deles não funcionariam como esperado e
eles também começariam a falar da necessidade de várias sessões terapêuticas
para curar uma doença. Comumente seria assim.
Com ou sem hospitais de qigong, ninguém
pode negar que o qigong pode curar. O qigong se popularizou na sociedade já há
bastante tempo; muitas pessoas já se curaram e fortaleceram o corpo por meio do
qigong. Se o mestre de qigong adiou a doença ou fez de outra forma, de um modo
ou de outro, a pessoa não está mais doente; ou seja, ninguém pode negar que o
qigong pode curar. A maioria das pessoas que buscam os tratamentos de mestres
de qigong padece de doenças desconhecidas ou complicadas que os hospitais não podem
curar. Elas vão a mestres de qigong buscando ser curadas e são finalmente
curadas. Especialmente no início, as pessoas pensavam: “Quem pode ser curado
num hospital não vai a mestres de qigong”. O qigong pode realmente curar, só
que isso não pode ser feito da forma como as coisas são feitas na sociedade
humana comum. Uma interferência em grande escala não é absolutamente permitida;
porém é permitido fazer isso em pequena escala, discretamente e sem
influenciar. No entanto, o tratamento pelo qigong não pode curar eliminando a
raiz da doença, com certeza. O melhor modo de uma pessoa se curar é ela mesma
praticar qigong.
Há também alguns mestres de qigong que
dizem que os hospitais não podem curar algumas doenças e criticam a eficácia
dos tratamentos nos hospitais. O que temos a dizer sobre isso? Claro, existem
razões para isso. A meu ver, a principal é a deterioração dos valores morais humanos,
que gera todo tipo de doenças incomuns que os hospitais não podem curar e
contra as quais os medicamentos não são eficazes, e além disso, há também
muitos medicamentos falsos. Tudo isso resulta da extensão da corrupção na
sociedade humana. Ninguém deve culpar os outros, porque todos colocaram lenha
nessa fogueira e, por isso, todos encontrarão tribulações e amarguras durante o
cultivo.
Os hospitais não conseguem identificar
algumas doenças, no entanto, a pessoa está realmente doente. Algumas pessoas
são diagnosticadas com doenças que nem sequer têm nomes, pois não existiam
antes. Os hospitais chamam-nas de “doenças modernas”. Os hospitais podem curar?
É claro que sim. Se os hospitais não pudessem curar, por que as pessoas
confiariam neles e iriam lá para se tratar? Os hospitais podem curar doenças,
só que seus métodos de cura são do nível das pessoas comuns, enquanto as
doenças são sobrenaturais. Há doenças muito graves; os hospitais precisam
tratá-las o quanto antes, pois pouco poderá ser feito se a doença estiver em
estágio avançado; além disso, doses excessivas de medicamentos podem intoxicar
o paciente. Os tratamentos médicos modernos estão no mesmo nível que o da nossa
ciência e tecnologia; estão todos no nível das pessoas comuns, por isso, só
podem ter essa eficácia de cura. Há um ponto que deve ser esclarecido: tanto a
cura pelo qigong comum como a cura nos hospitais simplesmente adiam a
tribulação, que é o motivo fundamental para a doença; a tribulação é levada
para a segunda metade da vida ou mais adiante. O carma não é removido.
Vamos falar sobre a medicina chinesa. A
medicina tradicional chinesa tem muita proximidade com a cura pelo qigong. Na
antiga China, praticamente todos os médicos tinham poderes sobrenaturais.
Grandes eruditos da medicina como Sun Simiao, Hua Tuo, Li Shizhen, Bian Que
tinham poderes sobrenaturais e isso está documentado nos livros de medicina.
Porém, coisas extraordinárias daqueles tempos são agora frequentemente
criticadas. O que a medicina chinesa herdou são apenas prescrições médicas ou
coisas resultantes de experimentações. A antiga medicina chinesa era muito
avançada, mais avançada do que a medicina moderna. Alguns pensam: “Como a
medicina moderna é avançada! Por meio da tomografia computadorizada podemos ver
o interior do corpo humano e há também imagens de ultrassom, raios X, etc.”.
Embora os equipamentos médicos modernos sejam bastante avançados, a meu ver,
ainda não estão à altura da antiga medicina chinesa.
Hua Tuo viu um tumor no cérebro de Cao Cao
e disse a ele que precisava fazer uma cirurgia para removê-lo. Cao Cao mandou
prender Hua Tuo, porque achou que ele tinha a intenção de matá-lo. Como
resultado, Hua Tuo morreu no cárcere. Quando a doença se manifestou, Cao Cao se
lembrou do que Hua Tuo tinha dito e mandou buscá-lo, mas Hua Tuo já havia
morrido. Pouco depois, Cao Cao morreu por causa desse tumor. Como Hua Tuo soube
disso? Ele viu o tumor. Esse era um poder sobrenatural humano que os grandes
médicos do passado tinham. Uma pessoa com o tianmu aberto pode, a partir de um
lado, ver simultaneamente os quatro lados do corpo; a partir da frente, ela
pode ver a parte de trás, o lado esquerdo e o lado direito do corpo, e pode ver
camada após camada. Pode também ver além desta dimensão e ver a causa
fundamental da doença. Os modernos equipamentos médicos podem fazer isso? Estão
muito longe disso; talvez em mil anos! Por meio da tomografia computadorizada,
do ultrassom ou da radiografia também é possível ver o interior do corpo,
porém, o equipamento é grande, a pessoa não pode levá-lo consigo; além disso,
não funciona sem eletricidade. Diferentemente dos equipamentos modernos, a
pessoa pode usar o tianmu onde ela estiver e sem depender de eletricidade! Como
compará-los?
Alguns falam sobre o quão maravilhosa é a
medicina moderna. Eu digo que não é bem assim. Na antiga China, as ervas
medicinais podiam realmente curar assim que aplicadas. A maioria das coisas
daqueles tempos foi perdida, no entanto, algumas ainda existem e circulam em
meio ao povo. Quando dei aulas na cidade de Qiqihar, vi um vendedor ambulante
extraindo dentes para as pessoas na rua. Notei imediatamente que ele vinha do
Sul da China, porque não estava vestido como alguém do Nordeste. Para todos que
lhe pediam, ele extraía dentes. Ele extraiu muitos dentes, porém, seu maior
propósito não era extrair dentes e sim vender uma poção medicinal da qual
emanava um forte e denso vapor amarelo. Para extrair um dente, ele abriu um
frasco com essa poção, encostou-o na bochecha próximo ao dente com problema e
depois pediu à pessoa para que inalasse algumas vezes o vapor amarelo emanado
da poção, que praticamente não era consumida. Logo em seguida, ele tampou o
frasco, colocou-o de lado, tirou um palito de fósforo do bolso e, enquanto
falava sobre a poção, usando o palito, ele deu um ligeiro golpe no dente ruim,
que saiu só com pequenos filetes de sangue. Não doía nem sangrava. Pensem
nisto: um palito de fósforo pode facilmente se quebrar se usado com força, no
entanto, ele o usava para extrair dentes e só com um leve golpe.
Eu digo que na China há coisas antigas que
circulam em meio ao povo que podem fazer coisas que os instrumentos de precisão
ocidentais não conseguem fazer tão bem. Vejamos o que é mais eficaz. Ele extrai
dentes com um simples palito de fósforo. No entanto, quando um dentista do
Ocidente quer extrair um dente, ele precisa antes aplicar uma injeção para
anestesiar o local. Ele perfura aqui e ali. Isso pode doer e é preciso esperar
a anestesia fazer efeito. Em seguida, o dentista começa a extrair o dente com
um alicate ortodôntico. Isso leva tempo e requer esforço, e se ele não for
cuidadoso, a raiz do dente poderá se quebrar e ficar presa na gengiva. Quando
isso ocorre, geralmente o dentista tem que usar um martelinho e um cinzel para
escavar, e isso faz o paciente ficar ansioso e com medo. Às vezes, ele precisa
usar um instrumento dentário para perfurar e desgastar o dente. Algumas pessoas
ficam com tanto medo que se retorcem e quase pulam da cadeira. Sangra um pouco
e o paciente cospe sangue durante algum tempo. Diga-me, qual dos dois
tratamentos é melhor? Qual é mais avançado? Não podemos só considerar a
aparência do instrumento, temos que ver também a eficácia. A antiga medicina
chinesa era muito avançada; levará muito tempo até que a medicina ocidental a alcance.
A antiga ciência da China era diferente da
nossa ciência atual que aprendemos do Ocidente. Ela seguiu um caminho que levou
à outra situação. Não podemos entender a antiga ciência e tecnologia chinesas
com a nossa atual forma de entender as coisas. A antiga ciência chinesa
estudava diretamente o corpo humano, a vida e o universo; era esse o enfoque
dado ao estudar as coisas, por isso, ela tomou outro caminho. Naqueles tempos,
nas escolas, os estudantes praticavam a meditação sentada e enfatizavam a boa postura
corporal. Quando escreviam com o pincel, eles ficavam atentos ao movimento
interno do qi e à respiração. Em todas as profissões, eles davam importância a
purificar o coração e regular a respiração. A sociedade inteira se encontrava
nesse estado.
Alguns dizem: “Nós teríamos carros e trens
se tivéssemos seguido o caminho da antiga ciência chinesa? Teríamos a
modernidade que temos agora?”. Digo que, da perspectiva deste ambiente, você
não conseguirá entender outro contexto; para isso você precisaria mudar
radicalmente suas noções. As pessoas não precisariam de televisões, pois teriam
uma em suas testas e poderiam ver o que quisessem. Elas teriam capacidades sobrenaturais.
Elas não precisariam de trens ou aviões; as pessoas poderiam sair levitando por
aí de onde estivessem sentadas e não precisariam de elevadores. Isso teria
levado a sociedade a outro estado de desenvolvimento e não teríamos que estar
confinados à este contexto. Os discos voadores dos extraterrestres vão e vêm a
uma velocidade incrivelmente rápida e podem se expandir e encolher. Eles
tomaram um outro caminho de desenvolvimento devido à outra abordagem científica